segunda-feira, 10 de março de 2008

Pura Vida No Mundo



"This is life, life in quintessential form – pura vida". Werner Herzog

A vida esta' a meu favor. Tive a oportunidade de visitar uma pequena vila num pequeno vale de uma pequena cadeia de montanhas do Himalaia. Onde o unico meio de transporte eh o andar `a pe'. E onde as criancas menores vem correndo dar um abraco nas pernas dos viajantes. O que mais se pode querer?
Garotos sentados nas pedras, estudando ao Sol antes da hora de ir para a escola. A menina linda, em seus nove, dez anos de idade, oferecendo buquezinhos amarelos das flores de mostarda a todos que passassem por seu caminho. Estou na India ha' 50 dias. E muito feliz por estar aqui. O que mais pedir?
Cada dia melhor do que o outro. Cada novo movimento mais simplificado. Olhares que despertam encontros que se abrem, que inspiram.
Escrevo desde McLeod Ganj, a capital do Tibet no exilio. O "Little Tibet", onde Sua Santidade Dalai Lama vive parte do ano, transmitindo toda a riqueza de sua cultura tibetana. Por alguns dias fui privilegiado em ve-lo e ouvi-lo – "Insofar as love is essential in every religion, we could say that love is a universal religion" – em seu templo, junto a quase dois mil estrangeiros e milhares de refugiados tibetanos.
E eh daqui que se chega a vila dos "mil abracos". Caminha-se rumo ao norte ate' a linha da neve, dorme-se uma noite em uma das cavernas perto de Triund (onde monges tibetanos do monasterio de Amdo esculpem com a neve), caminha-se mais um dia, subindo e descendo um passo na montanha a mais de quatro mil metros e, enfim, aterrisa-se na vila de Khatimbu.
O ceu azul, as neves "eternas", o vermelho das flores dos rododendros, o amarelo da mostarda, o verde das arvores, o som das aguas, nas diferentes quedas do rio Xuah, a brisa que trisca a pele, seca de Sol e ar rarefeito. O que mais se pode desejar?
Adentrar a pequena rua de Khatimbu com passos leves. O cheiro de chai, chapati e acafrao encontra no ar o som belissimo do Tampura, o instrumento indiano de quatro cordas. O 'Baba' fumando no meio da rua olha discreto e balbucia: "namaste". As mulheres coloridas, agachadas em seus cochichos de roupas lavadas. O menino quase moco (cedilha) enchendo o balde de agua. Os homens melhorando mais uma construcao. A India tem esse poder. Um sonho em um minuto. O que mais poderia imaginar?
Acho que vivemos para o momento. Para fluir com o tempo, em ritmos diferentes de presentes. O casal sorrindo, apertando as maos ao caminhar. Os picos de gelo pontudos a reinar. Tiro os oculos escuros, coloco os de grau. Sim, eh isso! Retiro os oculos de grau e vejo os olhos do Buda Gautama dizendo: "you cannot travel the path before you have become the path itself". Fecho os olhos e entro em outro mundo. O que mais posso falar?
Tashi delek! Thuk-je-chhe!!

abraco carinhoso,
Joao

Este primeiro faz-de-conto himalaio eh dedicado ao meu padrinho na Asia, Embaixador Edmundo Fujita (7 de marco), e tambem a minha mais-que-irma chilena, Paula Trivelli (10 de marco). A vida esta a nosso favor. Shanti Om!

João Paulo Barbosa

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