quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O inferno nem é tão longe





O mês em que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ganhou o prêmio Nobel da Paz por seus “extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia” registrou o maior número de soldados mortos no Afeganistão desde o início do conflito, em 2001. O período ainda foi marcado pela onda de violência nos frontes da guerra, com grandes atentados no Afeganistão, Paquistão e Iraque.Obama defende a retirada gradual das tropas do Iraque e um maior envolvimento da comunidade internacional no conflito afegão. O problema é que o último atentado em Bagdá, que deixou 155 mortos e mais de 500 feridos, demonstrou que o Iraque não está tão seguro como se imaginava. Enquanto isso, o Taleban promove grandes ações contra alvos internacionais, como o ataque com coletes-bomba e atiradores que matou 12 pessoas numa residência da ONU no coração da capital afegã, Cabul. Nesta semana, o Paquistão, que promove uma ofensiva contra redutos do Taleban e da Al-Qaeda na fronteira com o Afeganistão, sofreu o seu pior atentado em dois anos. Um carro-bomba foi detonado em um mercado lotado no noroeste do país, matando mais de 100 pessoas – a maioria mulheres e crianças – e ferindo mais de 200.

Texto: Talita Eredia
Veja todas as imagens editadas por Nilton Fukuda aqui.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

The Chinese

























After two hundred years of relative decline, China is about to regain its geopolitical importance and is one of the fastest developing countries in the world. The Chinese society is in an unparalleled upheaval. But the effects of the incredible economical boom aren’t felt the same way throughout the country. While urban centers like Shanghai and Hong Kong aren’t much different from big Western metropolis anymore, there are still a lot of small towns in the countryside that seem to come out of a different age.

In June we travelled to Beijing, to start from there an epic road trip through 30 of Chinas 33 provinces, independent cities and autonomous regions. We were on the road for more than seven months, travelled over 30000 kilometer and visited many remote and untouched areas. On this trip, we shot portraits of people from the most different social backgrounds, in all areas of this vast country. From the mighty industrialist Ying Ming Shan in Chongqing to the poor coal miner Su Zhenglin in Shanxi province. From the prostitute Xia Lan in Shenzhen to Yao Dongmei, the project manager of the prestigious CCTV tower construction in Beijing. The people were always shot in their natural environment.

These portraits tell much about China today. A fascinating place full of contradictions.

Images: Mathias Braschler & Monika Fischer

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A verdade é a mais pura verdade


Ana Cristina, minha irmã, fotografada por mim depois de retirar um tumor maligno e seus dois seios.Te amo Cris!

ESTATUTO DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.


Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.


Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.


Artigo IV

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:

O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.


Artigo V

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.


Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.


Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.


Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.


Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.


Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.


Artigo XI

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.


Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.


Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.


Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964

domingo, 4 de outubro de 2009

Da sucata ao luxo


Dinorah José Borges

Por Marcelo Abreu, Correio Braziliense

De longe, ela acena. O sorriso é bonito, mesmo com tanta tragédia. Os olhos esverdeados gritam por vida. Está de luvas, máscara e uniforme no meio de toneladas do que ninguém mais quer. É lá, na Central de Reciclagem do Varjão (CRA), que aquela mulher tira o sustento de todo dia. E não é fácil ser ela. Aos 40 anos, é viúva, teve 10 filhos, contam-se até agora 12 netos e seis bisnetos. Hipertensa desde jovem, há quatro anos, mal completara 36, teve um brutal acidente vascular cerebral (AVC). O médico lhe disse que nunca mais andaria ou falaria. Pouco tempo depois, ela andou e falou. Voltou a trabalhar. Sentiu a vida se expandindo por todos os poros.

Ex-doméstica, ex-empacotadora de supermercado, a vida nunca lhe fora fácil. Para completar, a casa em que vivia havia mais de 20 anos no Varjão estava em terreno inadequado. Com a padronização e postura do código de edificação em vigor na cidade, o barraco teve de ser demolido. Ela chorou, mas precisou enxugar as lágrimas. Era tudo que conseguira na vida, desde que ali chegou, no começo de tudo, antes mesmo de o lugar virar cidade.

A administração, porém, não a desamparou. Prometeu ajudá-la no aluguel até que ela construísse, ali mesmo, mas de forma regular, sua nova moradia. E ela voltou a trabalhar. Reciclou mais do que nunca. Dinorah José Borges é uma fortaleza. Na terça-feira, enterrou uma sobrinha que morava no Paranoá. Chorou mais uma vez como chorou a morte do filho mais velho, assassinado há três anos no mesmo lugar onde nasceu. No dia seguinte, depois do enterro, voltou a trabalhar. E mais uma vez enxugou as lágrimas.

Dinorah é vaidosa. “É a única coisa que ainda me restou. Até a minha casa eu perdi”, ela diz. A vaidade a levou a ter tatuagens. Atrás das orelhas, desenhou estrelinhas. Nas costas, um golfinho. No tornozelo, rosas. Usa piercing na sobrancelha e as unhas são pintadas com desenhos de flores. Nos dedos da mão direita, três anéis feitos de casca de coco. Na esquerda, a mesma quantidade.

Dinorah recicla o que não serve mais para ninguém. Dali, com mais 25 mulheres, tira o seu sustento. Quando o mês é generoso e aquela gente abastada do Lago Norte joga fora o que não cabe mais em suas casas igualmente abastadas, consegue juntar até R$ 300. O Varjão, com 9 mil habitantes, colado ao Lago Norte, está a anos-luz dali. Ela nunca teve dúvida da distância que separa os muito ricos dos muito pobres.

Inédito

Com a casa no chão, o único bem que conseguira juntar em 20 anos de Varjão, a administração prometeu ajudá-la. A professora Ana Beatriz Goldstein, 42, coordenadora de projetos especiais da regional, teve uma grande ideia. Por que não montar um ambiente da cidade no Casa Cor Brasília(1)? Levou a ideia às organizadoras. Aceitação total. A administradora Luiza Werneck, 53, também comprou a novidade.

De volta ao Varjão, Ana Beatriz reuniu as trabalhadoras da CRV e da Associação Girassol, mulheres costureiras que aos poucos, com suas confecções, estão se tornando independentes e levando suas peças às lojas da capital. Contou-lhes a proposta de levar o que de melhor a cidade tem para aquele mundo tão longe da vida delas. E, num trabalho de extrema parceria, empresas e entidades se juntaram em prol do Varjão. Dos resíduos que chegam ao galpão, das sucatas, nasceu a arte. Durante 60 dias, a singular e talentosa artista plástica Usha Velasco, 41, trabalhou voluntariamente e criou verdadeiras obras com o que aquelas mulheres reciclavam.

As costureiras criaram bonecas de pano. No seu ateliê do lixo, Usha juntou tudo isso e, na Casa Cor Brasília, montou um cantinho chamado de Varjão Consciente. O espaço tem a mesma metragem do tamanho que terão as salas de jantar e de estar da nova casa de Dinorah — 21 metros quadrados. “É o espaço dalit para o Varjão”, brinca Ana Beatriz. Dois dias antes do término do evento, algumas peças estarão à venda. E o dinheiro arrecadado será todo dividido entre as recicladoras e as costureiras.

Na CRV, a torcida pela reconquista da dignidade do endereço de Dinorah é grande. “Separei muitas latinhas pro trabalho. Ela merece por tudo que já enfrentou na vida”, diz Dalva Alves Silveira, 34. Viviane Oliveira, 25, se emociona: “A Dinorah é batalhadora, uma guerreira”. Vanessa Gonçalves, 22, ainda agradece: “Além de gente boa, ela me dá conselhos. Valeu a pena trabalhar tanto”. Até a presidente da CRV, Edinei Santarém, 34, entrou na luta pela casa da colega: “A gente não se cansa quando precisa ajudar”. E comemora: “A central completa um ano semana que vem. No começo, a gente trabalhava o mês inteiro e no fim não dava mais do que R$ 30. Hoje, se consegue levar pra casa até R$ 300”.

Verdade sem retoques

No espaço do Varjão montado no Casa Cor Brasília, Usha criou um ambiente com móveis e retratos, clicados pela lente sensível do fotógrafo Arthur Monteiro, parceiro da artista nesse trabalho sensacional. Ele revelou os moradores no seu dia a dia, em suas casas, suas expressões de sonhos e esperança, rostos sem maquiagem, sem botox, sem chapinhas, roupas de grife ou castelos ornamentando a paisagem. O resultado? A verdade sempre emociona. Ana Beatriz, a professora da regional, se encanta: “É a revolução silenciosa que está sendo feita no Varjão”. Revolução com o que há de melhor no ser humano: a vontade de se transformar. De se reinventar. É o que aquela gente tem feito todos os dias.

No fim da manhã de ontem, o Correio convidou Dinorah para conhecer o espaço Varjão Consciente naquele lugar tão distante de sua realidade. A recicladora trocou o uniforme que usa no galpão e entrou naquele lugar. Ficou maravilhada. Numa das fotos expostas, está a filha dela, que acabou de parir e lhe deu mais uma neta. Na bela fotografia em preto e branco, o mosquiteiro da recém-nascida enfeita a cena. É foto para prêmio. “É como se eu entrasse no meu lar, voltasse à minha casa”, ela compara, com os olhos espantados.

Todas as mulheres que trabalharam no projeto visitarão o Casa Cor Brasília. Percorrerão seus ambientes de revista. É um mundo além do que podem imaginar. Irão com suas roupas simples e uma enorme vontade de conhecer, apreciar, deliciar-se. O belo, de fato, enche os olhos. E entrarão no espaço que ajudaram a construir, a cidade delas. Vão se sentir importantes. Como realmente são.

Sairão dali com a certeza de que, mesmo com a distância incalculável que as separa do mundo sofisticado daquela gente abastada, elas existem, trabalham, produzem, sustentam suas famílias e, no meio do que ninguém mais quer, encontram arte. Essas mulheres do Varjão são sensacionais. Conhecê-las é como voltar a acreditar em gente. No melhor que gente pode ser. Salve, Dinorah, uma recicladora!


1 - Puro requinte
É o maior evento de decoração do Centro-Oeste, que abrirá amanhã suas portas para o público. O local escolhido para ser sede da mostra foi o Clube do Servidor, no Setor de Clubes Norte. O espaço é o maior da história do Casa Cor Brasília. São 18 mil metros quadrados, dos quais mais de 5 mil metros serão usados na construção de 61 ambientes. O tema deste ano será a sustentabilidade. Nesta edição, haverá também uma homenagem ao paisagista Roberto Burle Marx, que deixou sua marca em vários jardins da capital federal e este ano completaria 100 anos. O investimento no evento é de cerca de R$ 5 milhões e a expectativa é que o número de visitantes aumente para 40 mil pessoas durante os 40 dias da mostra, que se encerará em 4 de novembro.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Prêmio Sesc de Fotografia Marc Ferrez 2009


Arthur Monteiro

Imagem intitulada Conscientização ecológica, agraciada com o segundo lugar.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Páginas policiais














Quem já teve a infelicidade de frequentar as páginas policiais como personagem ou testemunha, e não apenas na confortável posição de leitor – ou de voyeur –, reconhecerá nessas fotografias de Arthur Monteiro um registro da vida como ela é. O trágico e o banal estão ali, lado a lado, desconcertantemente próximos. Como a luz amarela sobre o asfalto, tornando quase bela a forma do lençol no chão. Quase. Como disse Drummond, uma coisa são duas – ela mesma e sua imagem.

Elas mesmas, as coisas, são as seguintes: batida policial no Setor de Indústria, à procura de ladrões de carro. Perícia no local de um assassinato, em Samambaia. Empresário assassinado no Setor de Postos e Motéis, em frente à Candangolândia. Merla apreendida no Chaparral (Ceilândia Norte). Suspeito de envolvimento na fabricação de merla. Delegado da 21ª DP (Taguatinga Sul) durante apuração de um assassinato. Jovem acusado de matar os assassinos do irmão, todos envolvidos em acusações de tráfico. Velório no cemitério Campo da Esperança. Velório da primeria pessoa morta por dengue no DF. Morte por linchamento no Céu Azul (o morto era suspeita de latrocínio, roubo seguido de assassinato). Policiais acusados de matar por espancamento um comerciante da Ceilândia. Debaixo do jornal, o corpo de um homem assassinado por dívidas de jogo, num boteco em São Sebastião. Menino de doze anos atropelado por um caminhão na Via Estrutural.

Difícil lidar com essas legendas, assim agrupadas. Informações duras e cruas. Foi exatamente dessa forma que Arthur as apresentou, quando solicitado. Para mim foi mais fácil lidar com as imagens. Talvez uma coisa sejam três: ela, sua imagem e todo um universo de informações.

Usha Velasco

domingo, 6 de setembro de 2009

Eloge de ma fille







As imparidades de sua trajetória se refletem num olhar apurado sobre o que de insondável há na alma feminina por uma tangente de sensualidade. Mesmo antes de sua primeira exposição, em 1975, a fotógrafa francesa Irinia Ionesco já havia despertado o interesse de um grupo particular de artistas; mas seu êxito – paradoxal - e aclamação viriam de seu maior escândalo; a exposição Eloge de Ma Fille entraria na galeria Nikon de Paris e era esse mesmo olhar fetichista agora voltado para ela, Eva Ionesco... dos 5 aos 10 anos, em ensaios eróticos.
Segundo Irina, a proposta que originou a série de fotografias surgiu da própria Eva; eram sem dúvidas anos muito diferentes dos nossos, de uma busca e aceitação da liberdade sexual, ou ainda da liberdade dos corpos. Como mulher e artista, fruto de sua época, não pareceu estranho à francesa que Eva também pudesse ser alvo de fotografias simbolistas e que fosse focada exatamente como as outras mulheres, adultas, alvos das lentes de Irina.

As datas divergem - uns falam em 4 a 11 anos, outros de 5 a 10 anos de idade; ficamos aqui com a segunda possibilidade por ser a mais encontrada nas fontes – mas, sistematicamente, ano após ano, a fotógrafa utilizou sua filha como modelo em fotografias branco & preto de extremo apuro e ousadia. Ousadia até maior que a encontrada nas demais imagens obsessivas produzidas por Ionesco, muito maior. Eva aparece em nus, mas o efeito aterrador é o mesmo se ela é capturada vestida, como isso? É intrigante.
Assim a menina Eva surge como criança-mulher nos mesmos ares sombrios, ornada com dezenas de jóias ou bijuterias ordinárias, artefatos que falam deste mundo particular onde convivem delírio, morte, sensualidade e paixão. Seria quase uma entidade, um totem, um mito... Mas Eva era e é real: o choque é inevitável. Comunidade artística e opinião pública se puseram maciçamente contra Irina; a primeira – que já classificava seu trabalho como um desfile de maus gostos – considerou a coleção como o ápice dos absurdos, aquilo simplesmente não era arte. Já o público, numa oposição já esperada e recorrente, a execrou alegando uma falta explícita de moralidade.
Nada disso, logicamente, impediria Eloge de ma fille de entrar para a história da fotografia e do erotismo. Mesmo hoje, em que vivemos tempos de tão intenso tráfego de material de pedofilia, tempos que talvez nos turve a visão para certos aspectos fascinantes do bizarro ou do cruel, as fotografias que Irina Ionesco fez de sua filha permanecem inadvertidamente cheias do mesmo conceito, da mesma busca pela natureza do ser mulher vista através dos anos que passam para Eva e a revelam tão ou mais terrível (e uso terrível no sentido de espantoso) que a Lolita de Nobokov.
Abaixo, ficam aos leitores suas próprias interpretações, choques, achaques, absolvições ou engrandecimentos à obra prima de Irina Ionesco.

Fonte: uncovering