quinta-feira, 29 de maio de 2008

A escuridão visível






O fotojornalista irlandês Seamus Murphy lança nesta semana um livro que reúne imagens feitas nos 12 anos que passou fotografando o Afeganistão.

Intitulado A Darkness Visible (A Escuridão Visível, em tradução literal), o livro traz fotos do cotidiano do país durante os anos de guerra civil, passando pelo regime Talebã, de 1996 a 2001, até as eleições em 2004.

Murphy preferiu não incluir no livro apenas as cenas violentas, procurando destacar fotos de trabalhadores rurais descansando após o trabalho, de um pai que segura a filha momentos antes de um ataque, de crianças e afegãos em momentos de descontração.

O fotógrafo se tornou reconhecido internacionalmente por seu trabalho no Afeganistão e no Oriente Médio. Em 2004, sua exposição Afeganistão foi visitada por mais de 10 mil pessoas em Londres.

Murphy já foi seis vezes vencedor do prêmio World Press Photo, a principal premiação para o fotojornalismo mundial.

fonte: BBC

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Jaleco Branco







Pronto Socorro do Hospital de Base
Haragano · Brasília (DF) · 15/2/2007 22:27

Segundo dia. 09:25. Sala de espera. Raio-x e tomografia. Mais de 10 pessoas sentadas, a maioria mulheres (jovens, maduras, velhas). Uma maca atravessada, lençol branco ensangüentado, corpo inteiramente coberto, inclusive o rosto. Chego empurrando a maca do meu filho, braço e perna engessados. Põe a maca do lado da outra, ordena um Jaleco Branco. Faço que não ouço, entro na saleta “recepção” e pergunto baixinho se ali naquela maca tem um morto. Jaleco Branco ri, imagina, ele cobriu a cabeça porque quis. Estaciono a maca no local determinado. Vão sendo chamados os nomes, vão chegando mais e mais pessoas e sendo chamados e eu e o guri na espera, sem achar ruim, afinal, o caso dos outros de certo é mais grave, etc. De vez em quando chega alguém empurrando uma maca, mais um estropiado, que se há de fazer. Esperei duas horas, toda a torcida do flamengo fez raio-x e tomografia, aí eu comecei a pedir que chamassem o meu filho, mas eles não dão atenção, atarefados. O acidente ainda era recente, eu muito abalado, entrei na recepção quase chorando, moça, por que não chamam o meu filho? A funcionária espantada de ainda estarmos ali, vai verificar apressada e logo chamam. Não vou contar que quando voltamos com as chapas o médico que as solicitara não se encontrava (como dizem as secretárias), nem vou dizer que ninguém sabia se tinha ido embora, ou se voltaria logo, ou mesmo se estaria em algum lugar do hospital. Na verdade, só quero contar duas historinhas da recepção do raio-x. Uma se chama “Paulo Ferreira” e a outra não tem título. Chamam que chamam Paulo Ferreira e ninguém responde e passam para o próximo. Logo apregoam novamente Paulo Ferreira, até aos berros, sempre sem resposta. Então continuam a chamar o próximo. O tempo passa e algo se move debaixo do lençol ensangüentado (ao lado do meu filho, lembra?) e julgo ouvir um gemido. Então levanto a pontinha do lençol e uma boca arrebentada quer dizer algo, aproximo o ouvido, Paulo Ferreira sou eu. Corro lá dentro e aviso e já recebo uma ordem de um Jaleco Branco, então pode trazer, e eu, bem mandado, prontamente, volto empurrando a maca do infeliz. Perguntei se queria que eu avisasse alguém, sou sozinho no mundo, só eu e Deus, respondeu. Não o vi mais, oxalá não tenha ido encontrar seu Único Amigo. A história sem título começa com um Jaleco Branco empurrando aos trancos e barrancos uma maca com um motoqueiro imobilizado. Parêntesis: Jalecos Brancos não sabem empurrar macas. Eles vão dando porrada no que houver pela frente e pelos lados. Em compensação, Acompanhantes empurram macas corretamente, desviam e são solidários, de maneira que se um Acompanhante tem dificuldade como motorneiro, outro vem sempre em socorro. Dentro do parêntesis: Jalecos Brancos nunca ajudam acompanhantes (raramente ajudam Pacientes). Acho que é uma questão de princípio para a equipe alva, mas não tenho certeza. Volto para minha história sem título. O motoqueiro imobilizado sobre a maca, no meio da sala, o macacão arriado até os joelhos, um saco coletor amarrado no pênis, exposto diante de moças, senhoras, jovens e velhas. Eu, recém convertido em Acompanhante, ao notar que o motoqueiro desacordado está sendo desumanamente exposto por um Jaleco Branco, que, lógico, já deu no pé, apanho o lençol que está enrolado sobre a maca, repito, o lençol está enrolado sobre a maca, e o estendo da cintura para baixo do desmaiado.



Forte e sincero agradecimento: http://www.overmundo.com.br/banco/pronto-socorro-do-hospital-de-base

Honduras "Forced Identity" / Pep Bonet




Honduras, abril 2008
A epidemia de HIV/Aids é concentrada geralmente em populações de alto risco tais como os homens que fazem sexo com homens, os trabalhadores comerciais do sexo, os prisioneiros, os Garifuna (um população afro-caribenha) no exemplo de Honduras, as crianças de rua e as "forças de segurança" de alguns lugares do mundo.

Os homossexuais hondurenhos e os transexuais são vítimas comuns do preconceito da família, da igreja, político e das polícias, excluindo-os em sua maioria deles mesmos. O número das violações de direitos humanos a gays e lésbicas está aumentando mais rapidamente do que o número das organizações que os protegem.

Em San Pedro Sula, a segunda maior cidade do país, a AIDS infectou 5.5% da população. Nos estágios primários da epidemia, os homens hondurenhos são os mais atingidos pelas infecções. Agora, as mulheres correspondem a 30% dos casos. É a causa principal da morte entre mulheres e crianças, e a segunda causa principal da hospitalização entre adultos. Muitas destas infecções são contraídas através de prostitutas que trabalham nos bordéis por todo o país.

Pep Bonet retratou transexuais que trabalham comercializando o sexo, são gays e lésbicas que vivem com o HIV e presos em cadeias.

Ver o ensaio completo em www.pepbonet.com

domingo, 25 de maio de 2008

Fotógrafo da paz

Cornell Capa - 1918-2008






Cornell Capa nasceu Cornell Friedmann em uma família judia em Budapeste. Em 1936 se mudou para Paris, onde seu irmão Andre (Robert Capa) estava trabalhando como fotojornalista. Trabalhou como laboratorista para seu irmão até 1937, e então mudou para New York para integrar a nova agência de fotos Pix. Em 1938 começou a trabalhar no laboratório da revista Life. Logo seu primeiro ensaio - na Feira Mundial de New York - foi publicado em Picture Post.

Em 1946, depois de servir na Força Aérea dos Estados Unidos, Cornell se tornou fotógrafo da equipe da Life. Depois da morte de seu irmão em 1954, entrou na Magnum e quando David 'Chim' Seymour morreu em Suez em 1956, assumiu a presidência da agência, posto que foi seu até 1960.

Capa fez um estudo pioneiro sobre crianças deficientes mentais em 1954, e cobriu outros assuntos sociais, como o envelhecimento na America. Ele também explorou sua própria tradição religiosa. Enquanto trabalhava para a Life, Capa fez sua primeira de muitas viagens pela América Latina. Elas continuaram durante os anos 70 e culminaram em três livros, entre eles Farewell to Eden (1964), um estudo sobre a destruição das culturas indígenas da Amazônia.

Capa cobriu as campanhas eleitorais de John e Robert Kennedy, Adlai Stevenson e Nelson Rockefeller, entre outros. Seu livro de 1969, New Breed on Wall Street, foi um estudo de referência sobre uma geração de jovens cruéis empreendedores entusiasmados em fazer dinheiro e gastá-lo rápido.

Em 1974, Capa fundou o influente International Center of Photography em New York, o qual por muitos anos ele dedicou uma energia considerável como diretor.


"Uma coisa que eu e a Life concordamos desde o início é que um fotógrafo de guerra era suficiente para minha família. Eu era um fotógrafo da paz."


fotos: Cornell Capa/Magnum Photos

Coletivo


O termo eventualmente é utilizado para se referir a grupos de pessoas que assumem uma mesma orientação política, artística e/ou estética e reúnem-se associações (normalmente de caráter informal) conhecidas como coletivos.
Na foto: Armando Salmito, Arthur Monteiro, Henry Macário e Isabela Lyrio.
Incondicionalmente amigos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Eu e ele



Foi engraçado. De tanto fotografar paredes, achei uma que me fotografou.
Usha Velasco
http://www.umaoutrabrasilia.blogspot.com/

Na lagoa do Samuel


Arthur Monteiro


Isabela Lyrio

Durante a Folia do Divino Espírito Santo em Cocalzinho - GO.

domingo, 18 de maio de 2008

I know all the pains

Unfinished Dreams
Cristian Movila








Dani é uma das muitas crianças romenas diagnosticadas com câncer. Com seus suaves olhos castanhos, ele scanneia seu pequeno mundo de fios, roupas brancas e pais preocupados, e... ele sonha. Ele adora geografia e espera um dia ver a América. O número de enfermeiras na seção de oncologia é tão escasso que sua mãe teve que sair do emprego e aprender os jargões médicos para poder cuidar dele.
Acerca está Marian, um garoto de 8 anos com amplo sorriso e uma fenda entre os dentes da frente. "Eu conheço todas as dores. Eu sei o que é sentir dor e acredito em todos que estão com dor", ele diz.

Cristian Movila
http://www.cristianmovila.com/

quinta-feira, 15 de maio de 2008

VAI BÁRBARA, DANÇA!!!






Na Praça do Relógio, em Taguatinga, aconteceu ontem uma mobilização para o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que será "comemorado" dia 18 de maio.
Foi na Terra da Contradição que dançaram o funk do Créu.

fotos: Isabela Lyrio

terça-feira, 13 de maio de 2008

Cavalhadas

Rpberto Castello

Jorge Diehl

Hélio Rocha

Henry Macário

Tiago da Arcela

Arthur Monteiro

Rinaldo Morelli
Tem uma festa que acontece enquanto a festa está acontecendo. Gosto de colecionar instantes.


Isabela Lyrio

Alessandro Souza


Festas populares são prato cheio pra fotógrafos.
São capazes de acordar às 4h da manhã pra registrar os preparativos, aproveitar a suave luz da alvorada, se meter no meio da procissão, só parar para almoçar quando o estômago ou a esposa já estão reclamando e continuar nessa maratona até que acabe a bateria. Da máquina. Aì o fotógrafo volta na pousada, recarrega e volta pra festa.

Perto de Brasília, na cidade de Pirenópolis (GO), todos os anos, a Festa do Divino e as tradicionais Cavalhadas atraem gente de todo o país. Fotógrafos de todos os estilos buscavam registrar a festa. Walter Firmo estava lá, malandro apontando a cor; teve maracatu, mascarados, alças de Nikons e Canons em dezenas de pescoços e também correia segurando latinhas para pinhole; teve Imperador dando coletiva, chapéus e rosquinhas de côco, idéias refrescando a cerveja e a Igreja Matriz registrada em todas as cores, ângulos e velocidades.

Na fotografia, não é só uma festa.
É quando o mundo fica à sua disposição.
Para um batalhão, pode ser só a oportunidade de disparar freneticamente na tentativa de encontrar alguma pérola no mundo dos gigas.
Para o fotógrafo, é um encontro íntimo.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Imprensa Noir - Caso Isabella


Mais um trabalho que merece reflexão.
Porque determinados veículos se deixam pautar pelo desejo coletivo por notícias mórbidas?
O Coletivo Garapa dá a sua resposta.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Latinidades - México

Francisco Mata Rosas

Mexico - Tenochtitlán






Um dos maiores prazeres que tem me dado meu ofício é, sem dúvida, viver as ruas, viver nossa cultura popular alimentada de raízes, de tradições, de imposições, de história, de resistência, de violência, de amor pelo território, de solidariedade, de canalhices, de música, de sensualidade, de medos e esperanças; viver as ruas é observar, escutar, sentir, cheirar e compartilhar... para finalmente fotografar.

Tirar fotos significa para mim um ato de compreensão, pois o desejo de expressar-me se converteu na necessidade de ver e escutar... Assim conheci bairros que de outra maneira teria sido difícil chegar; fiz parte de rituais, vi bailes, compartilhei comida e bebida, me emocionei com os atos de fé que antes me pareciam inexplicáveis e desnecessários, entendi a necessidade do amor, da amizade e da solidariedade como combustível para viver mas, sobretudo, ficou claro que pertenço a algo e que sou de um lugar específico.

Com freqüência descobri, ao longo dos anos, paralelismos entre a representação nas festas e a vida cotidiana na Cidade do México, relacionei atos políticos com expressões religiosas, vinculei paisagens urbanas com estados de ânimo, encontrei no individual explicações para o coletivo, tratei de entender a mecânica interna que mantém a convivência nessa cidade e se tornou meu algo que já me pertencia: o sentido de humor e ironia que são parte de nossa realidade. Nesses bairros, nessas festas, nessas ruas com freqüência chocava de frente com tudo que já tinha visto, e reconhecia em meio à desordem ou ao caos visual a arte pré-hispânica, o colonial, o contemporâneo: só faltava isolar-lo. A maioria das vezes me sentia muito limitado com o meio que tinha elegido - a fotografia - mas por outro lado reconhecia nessa suas virtudes de síntese, de dramatização e sobretudo, de metáfora.

A fotografia nunca foi para mim o objetivo nem o pedaço de papel que a contém: tem sido e é o caminho, me permite estar e portanto, ser. A fotografia me fez compartilhar e conversar, me ensina a ser paciente, intolerante quando necessário, e tolerante por convicção; me tem mostrado a veleza do heterogêneo e do diverso, me permite ser uma pessoa melhor.

http://www.franciscomata.com.mx

segunda-feira, 5 de maio de 2008

È sempre cedo ter que ir embora


O fotògrafo è um nostàlgico.
Nao se contenta em apenas guardar a vida na memòria, quer registrar todos os detalhes possìveis e deixar sempre ao alcance dos olhos para quando sentir o passado muito distante.

O fotògrafo è possessivo, mas gosta de compartilhar. Na sua maneira de mostrar a alma, pede emprestado pedaços visìveis do mundo e os guarda dentro do tempo.

Os sabores jà nao estao na boca, o aroma do cafè se perde no ar, sons e lìnguas estranhas que nao se ouvem mais.
E somente os olhos serao capazes de trazer de volta tudo que o coraçao foi capaz de sentir um dia?

Foto: Isabela Lyrio
Pueblo Tapao - Colombia

Depois de quase quatro meses viajando pela Colômbia, volto hoje ao Brasil. A Colômbia é muito especial, a natureza é exubertante, a gente amável. Desde o primeiro dia sabia que tava no paraíso, e talvez seja cedo para ir embora, porque essa energia é arrebatadora, o ar puro e verde, o frio das montanhas e o calor dos vales e desertos, a brisa do Caribe, me enchem de energia, plena de vida, quase brilhando...



Ps: Gracias ao Joao pelo tìtulo.

domingo, 4 de maio de 2008

Redemunho



João Castilho

Esse trabalho foi realizado com os recursos da Bolsa-Pampulha do XVIII Salão de Arte de Belo Horizonte entre agosto de 2005 e junho de 2006 no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais e no sertão da Bahia.
Foi exposto no Museu de Arte da Pampulha entre os dias 16 de julho e 27 de agosto de 2006 em Belo Horizonte – Minas Gerais.

As conversas com os artistas e curadores Adriano Pedrosa, Jochen Volz, Luisa Interlenghi, Maria Angélica Melendi, Paulo Schimdt, Ricardo Basbaum, Rodrigo Moura e Rosângela Rennó tiveram enorme importância para o desenvolvimento do trabalho.

castilhojoao@uol.com.br

Copyright © 2006 João Castilho

O ensaio completo pode ser visto em: http://redemunho.zip.net/

Etnofoco na Ìndia



Pulando nos braços de Ganga Ma


Arti puja oferendas sao feitas para o Ganges (Ganga Ma)


O fotògrafo Olivier Boëls e a antropòloga Lena Tosta, Etnofoco, voltaram à India.
Por enquanto, algumas fotos podem ser conferidas no blog que eles mantêm no site Facebook, mas outros trabalhos podem ser conferidos no site Etnofoco, ou em PUNCTUM, Humano Sob Novas Luzes.


fotos: Olivier Boëls/Etnofoco

sábado, 3 de maio de 2008

Avijit e a luz da auto-reflexividade


Fotos: Avijit



Avijit, um artista

Ao contrário das oito crianças envolvidas no projeto de Briski, Avijit, já chegou artista. Sentado no chão do quarto onde vive com a avó prostituta e o pai drogado, ele desde muito pequeno projetava em papel a vida fora dos bordéis. De sua paleta já quase sem tinta, pintava as cores do mundo que lhe chegava pela tevê: telhados vermelhos, árvores em diferentes tons de verde, gente em trajes ocidentais e céu azul. A alegria de suas pinturas e a beleza de seu traço renderam-lhe inúmeros prêmios, medalhas que a avó coleciona orgulhosa num armário abarrotado de coisas.
“Eu gosto de desenhar porque quero expressar o que tenho em mente. Quero expressar o meu pensamento usando as cores”, diz o pequeno artista. As cores e formas do pensamento de Avijit não estão em Sonagachi; elas projetam um mundo que só ele vê, o mundo melhor que só é possível em sua mente.
Quando Briski põe em suas mãos uma câmera fotográfica, ele descobre um outro veículo para sua arte e uma Sonagachi que precisa ser vista. O olhar duro, triste, revela não só a dor das crianças que, pela violência, são obrigadas a amadurecer antes da hora, mas a angústia do artista que se sabe maior que seu tempo: “Eu queria ser médico; então quis ser artista. Agora quero ser fotógrafo. Não há uma coisa chamada ‘esperança' em meu futuro”.
Suas circunstâncias de vida parecem mesmo não credenciá-lo para “essa coisa chamada esperança” — muito menos parecem reservar-lhe qualquer futuro.
O orgulho pelo sucesso de suas fotos e a alegria por seu reconhecimento como artista parecem apenas fazer parte de um roteiro trágico que prepara a dor que não se pode explicar nem expressar em cores. Avijit não chora diante da notícia da morte da mãe. Mais que a perda afetiva de alguém que só existia no retrato, a intuição lhe avisava sobre a violência do destino nos bordéis. Talvez nem tenha chegado a saber que sua mãe fora queimada num “acidente” forjado por seu rufião. Avijit apenas se deixa sucumbir pela angústia que lhe corrói a vontade de tudo. Não estuda para os exames do colégio, falta às aulas de fotografia, deixa os rolos de filme fora da câmera.
Mais do que deprimido, o pequeno artista está revoltado. Como sugere o ensaio de Camus, o homem revoltado é aquele que diz não: ele nega alguma coisa porque antes ele afirma algo que lhe é negado. A revolta, então, é positiva, ativa, se dá em favor de princípios que transcendem o indivíduo, que reclama valores comuns a outros homens: frente a um mundo repleto de absurdos, a revolta, em vez de romper com limites, afirma o direito do homem e estabelece os limites da opressão. Avijit sempre fez de sua arte um instrumento da revolta contra a violência, a injustiça e a falta de esperança da invisibilidade da vida de mulheres e crianças condenadas ao vermelho angustiante dos bordéis. Mas a morte da mãe havia degenerado seu espírito revoltado em um espírito ressentido, e Avijit agora experimenta a negação absoluta, a aniquilação total, o niilismo.

"Embora a sociedade de massa e a economia de mercado se esforcem para igualar os homens — tratando-os como meros consumidores e padronizando seus desejos —, a desigualdade social desafia a retórica do progresso e se impõe pela teimosia. Insiste em se colocar em nosso caminho, borrando de sangue e de dor o cenário prazeroso forjado pela publicidade. Rebelde aos caprichos da era da estética e ao ideário salvacionista da globalização, a desigualdade oferece imagens de horror e violência na ilusão de nos inspirar compaixão, indignação, talvez revolta e desejo de mudança. Mas, na efemeridade do aqui-e-agora instaurado pelo fim das utopias, ainda haveria lugar para futuro?"

Patrícia Iorio

*Estamos a procura deste talentoso menino, quem souber seu paradeiro nos informe por gentileza, obrigado!