terça-feira, 8 de setembro de 2009
Páginas policiais
Quem já teve a infelicidade de frequentar as páginas policiais como personagem ou testemunha, e não apenas na confortável posição de leitor – ou de voyeur –, reconhecerá nessas fotografias de Arthur Monteiro um registro da vida como ela é. O trágico e o banal estão ali, lado a lado, desconcertantemente próximos. Como a luz amarela sobre o asfalto, tornando quase bela a forma do lençol no chão. Quase. Como disse Drummond, uma coisa são duas – ela mesma e sua imagem.
Elas mesmas, as coisas, são as seguintes: batida policial no Setor de Indústria, à procura de ladrões de carro. Perícia no local de um assassinato, em Samambaia. Empresário assassinado no Setor de Postos e Motéis, em frente à Candangolândia. Merla apreendida no Chaparral (Ceilândia Norte). Suspeito de envolvimento na fabricação de merla. Delegado da 21ª DP (Taguatinga Sul) durante apuração de um assassinato. Jovem acusado de matar os assassinos do irmão, todos envolvidos em acusações de tráfico. Velório no cemitério Campo da Esperança. Velório da primeria pessoa morta por dengue no DF. Morte por linchamento no Céu Azul (o morto era suspeita de latrocínio, roubo seguido de assassinato). Policiais acusados de matar por espancamento um comerciante da Ceilândia. Debaixo do jornal, o corpo de um homem assassinado por dívidas de jogo, num boteco em São Sebastião. Menino de doze anos atropelado por um caminhão na Via Estrutural.
Difícil lidar com essas legendas, assim agrupadas. Informações duras e cruas. Foi exatamente dessa forma que Arthur as apresentou, quando solicitado. Para mim foi mais fácil lidar com as imagens. Talvez uma coisa sejam três: ela, sua imagem e todo um universo de informações.
Usha Velasco
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Um comentário:
Belíssimo ensaio e ótimo texto, parabens
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