O mundo da rede é mesmo enriquecedor, sabendo garimpar então, isso tudo se torna algo muito além do que podemos imaginar.Leiam abaixo o que a divulgação de uma belíssima exposição foi capaz de provocar em cabeças pensantes do meio fotográfico.Transitou entre edição nos tempos aureos do analógico, história da fotografia brasiliense chegando até o flickr.Se esbaldem com a informatite garimpada.
Exposição Fotográfica “SQSQN a cidade dos meus olhos” de Beto Rocha
na Livraria Cultura-Brasília dia 3 a 30 de abril a partir das 19hs
Fotos © Beto Rocha
O trabalho traz um olhar dialeticamente construído entre luzes e sombras, entre quadras, nas asas de um plano piloto. São traços urbanos, por demais humanos, de uma cidade jardim na pressa moderna de corações exaltados. Monumentos humanizados, espaços setorizados constituem uma fotografia na linha do horizonte, que se perde no infinito do olhar distraído, cruzando a cidade de norte a sul, de sol a céu aberto para o cerrado. Um olhar que experimenta a existência, antes mesmo da essência do existir, como um flâneur a contemplar o moto contínuo da vida na cidade. 20 fotografias de Brasília, levando em consideração o cotidiano mais banal da cidade, nas 4 escalas criadas pelo arquiteto (escalas do monumental – poder -, residencial, gregária e bucólica), onde a imagem é tomada pela luz que determina sua forma, sua concepção, através do contraste entre luzes e sombras, entre cores. Como um Impressionista.
1. Rinaldo Morelli | March 31st, 2009 | 2:37 pm | :
Beto, é um gigantesco privilégio, e responsabilidade, participar da edição de seu trabalho.
As vezes perco a objetividade entre babas que escorrem diante de algumas imagens.
Ainda faremos um livro que faça jus ao seu olhar de cronista.
Poucas imagens pretendem ser sínteses, mas seu trabalho não pode ser resumido.
abcs e parabéns
do amigo e companheiro de muita aventuras
Rinaldo
2. Adriana Paiva | March 31st, 2009 | 3:48 pm | :
Rinaldo, você é curador da expo do Beto Rocha ? Isso ? Conte mais .
Você, aliás, triscou num assunto que muito me interessa.
Lembra do que a Ana Regina Nogueira conta ao Joaquim Paiva em “Olhares Refletidos” ?
Recordo, amiúde , de uma passagem dessas entrevistas: quando ela fala sobre editar o próprio trabalho. De como o olhar dela mantinha-se contaminado pelo recém-registrado e de como ela via ser necessário esquecer os negativos no fundo da gaveta para , mais tarde, experiência “arrefecida” , ela conseguir editar o próprio material.
Todo esse preâmbulo para dizer: padeço da mesma dificuldade de Ana Regina ; não sei editar meu trabalho fotográfico. E, já pedindo perdão, se soar cabotino, sou muito mais exitosa editando o trabalho alheio .
Bem, deixo as reflexões para discussão.
Beijos
3. Adriana Paiva | March 31st, 2009 | 4:02 pm | :
Rinaldo, faltou perguntar: Você sente que “flui” melhor editando o seu trabalho fotográfico ou o trabalho de outros ?
Sua percepção é compartilhada por aqueles que você já “editou” ?
Eu creio nunca ter decepcionado os fotógrafos cujo trabalho eu tenha “editado” - termo que aplico em amplo sentido, claro, já que nunca atuei, profissionalmente, como ‘editora de fotografia’ .
Posso estender a pergunta a você, Claudix ? O que me diz ? Tem suficiente “sangue frio” , distanciamento bastante, para se auto-editar ?
Bjs
4. Wank Carmo | March 31st, 2009 | 6:44 pm | :
Concordo em parte com a amiga Adriana. Não vejo necessidade de deixar os originais por muito tempo na gaveta, para depois sacar o melhor do conjunto, mas vejo como necessidade, visitar os negativos sobre a mesa de luz, por várias vezes, num momento em que as emoções, aquela animação inicial passou. Friamente, para poder analisar melhor o que vai ser mostrado e o que vai para o lixo. Quando fazemos uma seleção radical, desimpregnando a vaidade, do nosso ego, nos sentimos na obrigação de buscar mais e mais, algo que nos emocione realmente. Uma editora de uma agência estrangeira, que andou perambulando por São Paulo à cata de fotografias fenomenais produzidas no Brasil, foi muito eficaz e rigorosa nesse ponto, quando afirmou que no seu alforje só entraria a fotografia que lhe tirasse a exepressão “Uau!” As duas fotos de Beto Rocha não tiram o folego, mas são dignas de irem para qualquer parede. “UAU!”
O trabalho que observo acima, é fruto desta garimpagem cuidadosa, onde a procupação com a qualidade falou mais alto e isto servirá de combustível nao somente para Beto, mas a todos que curtem com a alma, esses fragmentos de vida.
5. Wank Carmo | March 31st, 2009 | 6:48 pm | :
Mais: aí está, a prova da força do instante decisivo, sem “apelações contemporâneas…”
6. Adriana Paiva | March 31st, 2009 | 7:05 pm | :
Boa noite, Wank ! Obrigada por opinar .
Bem, como hoje tenho usado bastante esporadicamente minhas analógicas “Nikon” ( revelando, assim, poucos filmes) , o que tenho achado útil fazer , quando não há deadline a observar, é baixar as fotos em meu notebook, classificá-las e esquecer delas por um tempo . Deixar mesmo a experiência esfriar nos olhos e na memória. Ajuda um bocado .
7. Wank Carmo | March 31st, 2009 | 7:34 pm | :
Boa noite, Adriana!
É sempre uma honra trocar idéias nesta maloca cibernética. Aprende-se. Voce dá um descanso à mente. É mais ou menos o que falei anteriormente. Se eu faço uma foto e acho ela o máximo no moneto do click, hoje eu dou um descanso emcocional para ver se realmente aquela foto é tão legal como eu achava. Depois entra o crivo seletivo radical.
8. Rinaldo Morelli | April 1st, 2009 | 7:03 am | :
Adriana, editar é também uma obra autoral. Depositamos nosso olhar no olhar do outro e fazemos um recorte.
Talvez por isso alguns fotógrafos não gostem que outros editem seus trabalhos…
Eu também tenho dificuldade em editar meu trabalho, é uma das coisas que sinto falta dos tempo áureos do grupo Ladrões de Alma. Fazíamos edições em grupo do trabalho de cada um.
Mais do que isso, acho que uma curadoria encontraria vertentes, caminhos e leituras que o autor não tenha percebido.
É sempre muito enriquecedor.
9. Claudio Versiani | April 1st, 2009 | 7:23 am | :
Editar não é fácil, seja de quem for o trabalho. O que é interesante e didático no processo é o aprendizado com o outro. Descobrir o que o fotógrafo queria dizer e se surpreender é sempre prazeroso. Faz muito tempo eu participei de um workshop na Argentina. O grande Abbas era um dos mestres. Ele simplesmente olhava para a foto e dizia: Funciona! Não funciona! Algo parecido com o UAU do Wank.
Eu gosto muito de editar o meu trabalho, sempre. E sempre descobrir que poderia ter feito um pouco melhor e me esforçado um pouco mais, além de me chatear porque depois de velho ainda cometo erros banais, é do jogo.
Um outro olhar sobre as nossas fotos é bem vindo. Mas o que é legal mesmo é participar de uma edição coletiva. No livro Brasil 500 anos passamos 7 dias, 11 editores e milhares de fotos. Inesquecível! Enriquecedor como escreveu Rinaldo. A troca de experiência é fundamental. Por isso mesmo estamos aqui compartilhando o Beto Rocha. E para fechar, eu digo que as duas funcionam muito bem e digo vários Uaus para elas, principalmente para a primeira.
10. Wank Carmo | April 1st, 2009 | 4:41 pm | :
Falou e disse, Claudio. Me amarro numa ajuda. Não tem coisa melhor do que um olhos mais experiente em cima do trabalho da gente. Eu boto no crivo alheio numa boa.
11. Adriana Paiva | April 2nd, 2009 | 9:27 am | :
Claudio, Rinaldo, Wank,
Quero ler seus apartes com calma para responder mais tarde. Hoje, por aqui, estou mais atarefada do que o costumeiro.
Por ora, digo que assino embaixo daquele verso da música de Paulo Tatit e Arnaldo Antunes :
“O seu olhar, seu olhar melhora, melhora o meu” .
Abraços
12. Adriana Paiva | April 2nd, 2009 | 11:52 am | :
Um pedido (com jeito de anúncio):
Preciso, urgentemente, de um novo exemplar de “Olhares Refletidos”, do Joaquim Paiva . O meu (’antiguinho’) , uma edição do final dos anos 80, está perdido em algum lugar, entre minhas coisas guardadas em Sampa.
Compro usado (desde que me possa ser entregue, urgentemente, aqui, no Rio) . Por favor, ver contatos em meu site.
Obrigada
13. Adriana Paiva | April 2nd, 2009 | 12:50 pm | :
Em tempo:
Um convite a que se conheça melhor o trabalho da fotógrafa Ana Regina Nogueira — cujos depoimentos constam no livro de Joaquim Paiva ‘Olhares Refletidos - Diálogo com 25 Fotógrafos Brasileiros ‘ (Editora Ágil / Dazibao - 1989 ) : http://www.anareginanogueira.com.br/
Não é demais lembrar: Conheci o livro de Paiva (que não é meu parente) e parte da obra de Ana Regina, cursando Introd à Fotog., na UnB. História contada em minha coluna aqui.
14. Usha Velasco | April 2nd, 2009 | 1:07 pm | :
Rá rá rá, eu tenho, você não tem…
Não vendo, não troco nem dou!!! Rá rá rá rá rá….
Mas se você quiser, chuchu, te mando por sedex, depois você me devolve!
15. Adriana Paiva | April 2nd, 2009 | 1:14 pm | :
Usha, meu exemplar (velho companheiro desde unB) está perdido lá em SP — em algum canto, entre caixas e gavetas.
Adorei e agradeço a sugestão do Sedex. Juro: 2Vs.
Beijos !
16. Usha Velasco | April 2nd, 2009 | 1:39 pm | :
As edições em grupo que fizemos nos Ladrões de Alma foram uma verdadeira escola para mim. Isso aconteceu ao longo de quase vinte anos, sendo mais intensivo nos primeiros dez anos, de 1988 a 1998, quando nos reuníamos religiosamente todas as semanas (religiosamente em termos de periodicidade, bem entendido, porque em outros termos… bom, deixa pra lá).
Foi mais que uma experiência riquíssima; na verdade, foi decisivo para a minha formação, não só fotográfica mas também como designer e artista plástica. Um novo horizonte se abria para mim a cada vez que quebrávamos o pau em torno de uma mesa durante horas, com a tarefa de escolher doze ou quinze fotos num conjunto de quarenta ou cinquenta. Digo horizontes num sentido quase literal, porque nossas discussões eram sempre em cima de linguagem fotográfica.
Quais imagens estão fora do tema? Por que esta aqui está dentro e aquela ali não? Essas duas são parecidas, não podem ficar no mesmo conjunto. Tá doido? Uma não tem nada a ver com a outra! Tem sim, olha só isso, aquilo e aquilo outro. Eu prefiro a cópia mais contrastada. Eu prefiro a mais suave. Mas a contrastada enfatiza melhor o clima dramático deste ensaio. Não, a mais suave é melhor porque tem mais detalhe na sombra. Você não pode priorizar a técnica em detrimento da linguagem. Posso sim, porque a técnica também é condicionante da linguagem. Deixa de ser tecnicista! Deixa você de ser porra-louca! Essa foto é forte demais para andar junto daquela outra. Esta aqui é fraca demais para abrir o ensaio. Mas ela é linda! Também acho, mas não para abrir. Desenvolva; se você não desenvolver eu não aceito! Então vamos lá, preste atenção neste enquadramento…
E por aí íamos. Agora fazemos isso muito raramente. Morro de saudades. Mas os Ladrões me tornaram uma boa editora, modéstia às favas, como diz meu amigo Rinaldo Morelli.
17. Rinaldo Morelli | April 2nd, 2009 | 1:54 pm | :
É pena que hoje não se discuta muito linguagem fotográfica…
Beto Rocha era quem dava a disciplina Linguagem Fotográfica no saudoso Centro de Pesquisas Fotográficas do CEUB. Era um curso livre dentro do campus de uma universidade particular aqui em Brasília. Lá na década de oitenta… Muita gente boa passou e/ou nasceu por ali…
Não quero discutir quantidade de pixels. Não quero saber qual é o zoom de sua lente. Nem qual é o flash que sincrorniza, muito o menos quanto custa isso tudo!
Quero ver qual é a poesia que brota em seu sensível, que intermediada pela técnica, chega aos meu olhos, e me toca.
Não quero saber o que seu equipamento faz, quero saber o que você faz com seu equipamento.
Saudade do tempo que se discutia linguagem fotográfica…
18. Adriana Paiva | April 2nd, 2009 | 2:19 pm | :
Usha,
Como eu supunha, sua participação nessa discussão a enriquece ainda mais .
Aproximei-me de você e, depois, do Rinaldo, mas ou menos nessa fase, quando vocês estavam (febris) às voltas com os projetos dos Ladrões de Alma . Lembro como se fosse hoje. Afinal, estive presente em alguns dos eventos (vernissages/exposições) em que esses projetos ganharam corpo.
Guria, genial seu relato sobre as reuniões de cúpula dos Ladrões. E que requinte a reprodução dos diálogos ; me transportei completamente . E ri muito do embate “tecnicistas X porra-loucas” .
Beijos
19. Adriana Paiva | April 2nd, 2009 | 3:24 pm | :
Taí, Rinaldo !
E a Internet não seria um bom lugar para se discutir linguagem fotográfica ? Penso, aliás, que essa seja uma das propostas do Pictura Pixel .
Acho que os fotógrafos brasileiros fazem pouco uso dos espaços de discussão disponíveis na rede . Discussão relevante, quero dizer . Para além de temas como equipamento — ‘”ah, porque a minha [ o ] grava, faz ligações e voa, custou $$$$ e chegou outro dia da BH “… Confesso que esse tipo de “debate” sempre me deixou entediada .
O que eu noto na Internet, desde a febre que foi o Fotolog e, agora, em sites como o Flickr e congêneres, é que as pessoas que fazem fotografia, atualmente, e exibem seu “trabalho” na rede, estão afoitas por mostrar o que produzem (algo cada vez mais fácil ! ) e alucinadas por receber louros por isso. Apenas.
Tenho batido bastante nessa tecla . E o feedback mais relevante, por incrível que possa parecer, vem de não-fotógrafos. Essa indolência intelelectual no meio fotográfico, já me deixava desanimada muito antes do advento da Internet.
O que traz alento é deparar com outros inquietos, que, como vocês, aparecem aqui para discutir .
Então, meninos, o que acham de levantar mais questões ?
Beijos,
Adriana
P.S.:( Lembro, acho que, do Marcelo Lunière (Ladrões?) dando algo como um ‘curso de férias’, no CEUB . Cheguei a ter aulas com ele — creio que, no início dos anos 90) .
Isso tudo veio daqui.
2 comentários:
Boa tarde a todos !
Li os comentários sobre EDIÇÃO e apesar de leiga na questão, estou com um livro pronto pra ir pra gráfica... Fiz tudo sozinha,ninguém viu esse trabalho, portanto, estou insegura.
Será que entre vocês teria alguém que se interessaria em conhecer esse trabalho(através da versão do livro virtual)e opinar a respeito?
Muito obrigada
Claro Fátima, pode me encaminhar o link?
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