quarta-feira, 7 de maio de 2008

Latinidades - México

Francisco Mata Rosas

Mexico - Tenochtitlán






Um dos maiores prazeres que tem me dado meu ofício é, sem dúvida, viver as ruas, viver nossa cultura popular alimentada de raízes, de tradições, de imposições, de história, de resistência, de violência, de amor pelo território, de solidariedade, de canalhices, de música, de sensualidade, de medos e esperanças; viver as ruas é observar, escutar, sentir, cheirar e compartilhar... para finalmente fotografar.

Tirar fotos significa para mim um ato de compreensão, pois o desejo de expressar-me se converteu na necessidade de ver e escutar... Assim conheci bairros que de outra maneira teria sido difícil chegar; fiz parte de rituais, vi bailes, compartilhei comida e bebida, me emocionei com os atos de fé que antes me pareciam inexplicáveis e desnecessários, entendi a necessidade do amor, da amizade e da solidariedade como combustível para viver mas, sobretudo, ficou claro que pertenço a algo e que sou de um lugar específico.

Com freqüência descobri, ao longo dos anos, paralelismos entre a representação nas festas e a vida cotidiana na Cidade do México, relacionei atos políticos com expressões religiosas, vinculei paisagens urbanas com estados de ânimo, encontrei no individual explicações para o coletivo, tratei de entender a mecânica interna que mantém a convivência nessa cidade e se tornou meu algo que já me pertencia: o sentido de humor e ironia que são parte de nossa realidade. Nesses bairros, nessas festas, nessas ruas com freqüência chocava de frente com tudo que já tinha visto, e reconhecia em meio à desordem ou ao caos visual a arte pré-hispânica, o colonial, o contemporâneo: só faltava isolar-lo. A maioria das vezes me sentia muito limitado com o meio que tinha elegido - a fotografia - mas por outro lado reconhecia nessa suas virtudes de síntese, de dramatização e sobretudo, de metáfora.

A fotografia nunca foi para mim o objetivo nem o pedaço de papel que a contém: tem sido e é o caminho, me permite estar e portanto, ser. A fotografia me fez compartilhar e conversar, me ensina a ser paciente, intolerante quando necessário, e tolerante por convicção; me tem mostrado a veleza do heterogêneo e do diverso, me permite ser uma pessoa melhor.

http://www.franciscomata.com.mx

Um comentário:

Anônimo disse...

Compreendo!...